segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

Cadê o Mundo Humanitário


A busca pelo ingresso no mercado de trabalho que dê conta da realidade em que não só eu, mas várias outras pessoas estão inseridas, passou a ser minha preocupação. Analisando no interior das minhas relações sociais e, apesar de adentrar o campo da particularidade, percebo que em função de um direito legítimo do desenvolvimento humano e, conseqüentemente, de suas aptidões, a forma de vida econômica vigente – adotada pela sociedade, não dá espaço para uma relação social humanitária onde a natureza humana poderia ser desenvolvida num processo emancipatório. Deste modo, a atividade humana e, portanto, existencial, se constitui enquanto relações objetivas entre coisas e não mais relações pessoais entre homens.
Recorrendo aos pensamentos de Karl Marx e de Herbert Marcuse, para pensar os procedimentos da vida econômica da sociedade vigente, busco no interior destes métodos entender a sua legitimidade e seu controle sobre a natureza humana. Se voltarmos os olhos para a história da humanidade iremos perceber que o germe destrutivo de toda liberdade e satisfação do homem em suas atividade encontra-se no papel de dominação. Com efeito, a dominação que abre espaço para a relação senhor-escravo entre os homens vem sendo o locus para a repressão e subjugação efetivas das aptidões humanas. Herbert Marcuse  já pensa numa interpretação filosófica do pensamento de Freud, a saber,  processo dinâmico de civilização – onde a auto-repressão do sujeito reprimido se instala em sua psique e que dá sustentação para a existência de senhores e instituições cada vez mais privadas. Deste modo, a exploração de mão de obra acaba também se efetivando.
No que diz respeito ao capitalismo tardio, seu procedimento apresenta como objeto a mercadoria e sua concepção finalística o lucro. Acontece que no interior da produção de mercadoria o trabalhador vende sua mão de obra para a criar produtos transformados em propriedades  do empresário mediante contrato e, conseqüentemente, o poder do capital também nas mão deste segundo  colocando o primeiro (trabalhador) numa posição limitada na apropriação do produto que ele mesmo produz. Com o capital no controle do empresário, este também tem o domínio da mão de obra que sendo ela comprada é travestida também em mercadoria de pouco valor tendo como objeto de comparação o lucro gerado pela quantia de mercadoria produzida pelo trabalhador. A crítica aqui levantada é a perspectiva do pensamento econômico que ocorre na divisão de trabalho, performando a racionalidade da sociedade. O que se questiona é a redução e abstração que a forma de vida econômica resulta o sujeito. Esta esvazia o trabalhador de seus conteúdos humanos. E o que se encontra em causa neste momento é como o trabalhador entra em conformidade com estas leis? E como pode o trabalhador, sendo ele o mais prejudicado, sustentar as categorias do capitalismo?
Sendo a atividade humana um meio para o desenvolvimento da humanidade, a relação social frente o capitalismo determina a natureza e a existência da humanidade. Em outras palavras: a mercadoria que deveria assumir o papel à serviço das necessidades do homem passa a dominar toda forma de vida do ser humano. A consciência que é uma das aptidões do homem e uma das fontes para o desenvolvimento e emancipação fica a mercê das relações materiais de produção. Neste caso, o trabalho que deveria ser o meio de auto-realização acaba sendo reduzido como objeto de repressão. Já que o trabalho determina a existência do sujeito que é objetivado pela sua mão de obra, esta torna-se uma propriedade daquele que consegue pagar por ela. A lógica que compreende o sistema capitalista retira do trabalhador sua própria existência, as atividades que compreende a sociedade já não dão espaço para a satisfação necessária do trabalhador. Em outros termos: o trabalho deforma as faculdades humanas e seus processos de satisfação. Portanto, o trabalho no qual o sujeito deposita maior parte de sua vida não realiza sua verdadeira forma, já não se pode encontra satisfação e prazer no interior do trabalho, o homem já se contradiz frente às suas atividades sendo reduzido à funções animais, sua liberdade acaba sendo extinguida.
O resultado desta nova relação social que cortina a verdadeira relação pessoal entre homens incorpora uma nova ordem social, a saber, da posse e aquisição.  A busca pelo poder do capital é reduzida na soma de riquezas e do acúmulo de mercadorias e, portanto, da propriedade. Os indivíduos passam a assumir uma posição dentro do sistema; o modo de interesses particulares e possessivos expondo o comportamento individualista negando mais uma vez a humanidade e intensificando a pobreza, já que o acúmulo de mercadorias se torna uma atividade de poucos. O problema levantado aqui que passa a ser o termo-chave para este discurso é o esvaziamento do ser e o quanto a lógica do capitalismo tardio bestifica toda humanidade. Um sistema desenvolvido para satisfazer as necessidades do homem acaba por retirar-lhe sua natureza. O processo de civilização parece, na verdade, uma regressão à barbárie.

sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

Bidú Sayão


Apesar da falta de inspiração que levantasse uma discussão entre a gente, caro leitor, mas tenho que tornar público o que por acaso tive o prazer de conhecer diante de um documentário à respeito do que eu chamaria de "Madona" (e não Madonna) brasileira, a saber, Bidú Sayão.

Seu nome é Balduína de Oliveira Sayão, Bidú nasceu em Itaguaí em 11 de maio de 1902 e falecida em 13 de março de 1999. A soprano começou estudando canto com Elena Teodori, contudo, não era uma de suas prioridades em sua vida. Com uma paixão ardente pela representação, Bidú lança à mão sua voz para poder representar - o que na sua época era censurado. Tempo em que a cultura era severamente sistemática com as mulheres, não era bem visto, diante da sociedade, uma mulher de família destacar-se públicamente, é através de suas cordas vocais que Bidú econtrara as chaves para realizar o que mais desejou. 

Em tempos posteriores a soprano vai para França tornando discípula de Jean de Reszke. Com sua estreia em 1926 no Teatro Constanzi em Roma no papel de Rosina em "O Barbeiro de Sevilha" composto por Rossini - surge o que seria o caminho para o estrelato. Dentre outras apresentaçõs como Metropolitan Opera House de Nova Iorque em 1937 na ópera de Massenet, e outras representações mediante convites de outros grandes compositores renomados no horizonte músical como Debussy e Villa Lobos que, aceitando o convite do músico em 1959 grava a obra "Floresta Amazônica".
Sayão recusara a cidadania oferecida por Rossevelt para concretizar o desejo de terminar sua vida nas experiências do solo brasileiro - "No Brasil eu nasci e no Brasil morrerei".
Bidu Sayão se apresentara pela última vez, agora em sua terra, Rio de Janeiro em 1937, cantando "Pelléas et Mélisande no Teatro Municipal. Rumores contam que sua representação foi vaiada por ser considerada uma cantora norte-amerianizada e que não conservara suas características de mulher carioca para interpretar o sucesso de Carmen. Teve sua força vital interrompida por uma pneumonia muito combatida na clínica Rockport em 1996.

Enfim, fiquei encantado com a vida desta "Madona" e tive o maior desejo de dividir isto com vocês. A vida da soprano é tão sedutora que ao cair nos ouvidos do sambista representante da escola Beija-Flor, este transformara sua vida numa melodia em seu enredo contemplado no ano de 1995.




quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

"O Céu é meu Inferno"


 A relação entre a ética "transcendental" da religião e a convencional civil, trouxe - e ainda traz, muitas conturbações. Analisando um pouco mais as teorias de cada projeto, tendo por fundamento ambas as éticas como resultado do processo cultural, sugiu o questionamento sobre a possibilidade da ética religiosa atender - através de seus conjuntos de regras - o funcionamento comportamental do ser homem enquanto humano e, não vi outra saída se não opor a este modelo ético "transcendental". Tendo em vista a finalidade do ser (sua completude), a religião advoga a favor da noção da impossilidade de um estatuto do homem no campo do mundo, ou seja, de que o sujeito deveria se constituir na aplicações de práticas ancoradas na natureza divina (perfeita, absoluta, Boa), portanto, a tarefa moral presente na teoria religiosa que, consiste na relação entre espírito e eternidade, só pode ser concretizada no mundo que constitui o sujeito negando toda sua natureza humana, o que erige um paradoxo. Obviamente, agir segundo a natureza "imperfeita" do homem desenbocaria na idéia de falta de benevolência e perfeição.

É difícil conceber uma perspectiva dialética que debruça em seu interior o movimento de ser negando a si próprio. Ora, para ter uma idéia mais clara, pensemos por um momento, sob esta perspectiva dialética, alguns dos fenômenos referente ao processo. Um dos candidatos categóricos para a finalidade do homem são as afecções reguladas nas operações de negação do ser de sua natureza. Aqui, a ética religiosa, no que diz respeito à expericência com o outro, limita o sujeito ao esvaziamento de conteúdos de sua forma, como, por exemplo, reprimir o sentimento de ódio (repulso) que podemos ter com o outro e "oferecer a outra face". Ora, se há circunstâncias na qual nasce por comoção este sentimento, é condição de ser algo da natureza do homem para que seja despertado em seu interior e, que tem sua realidade dependente do ser humano. Negar certas afecções como esta, ou seja, negar a expêriencia de sentidos internos, não seria o mesmo que negar a natureza de homem e, por conseguinte, sua apercepção; necessária para a condição do ser enquanto homem.

Sublimar o sexo na qualidade de procriação representada numa manobra que começa a existir no campo do pecado (imperfeição), não é pensar o desejo instintivo do prazer sexual sobre algo do mundo exterior, criando um abismo entre o homem e a libido? Este objeto do sentido interno, com efeito, exige biológicamente sua satisfação. No instante de negação, a libido deixa de ser o ponto de vista no qual se vê a natureza humana e passa a ser objeto transcendente que acompanha toda representação de negação do ser.

Se para atingir a finalidade absoluta do ser humano (céu, imortalidade, vida eterna) seja preciso acomodar-se às tarefas éticas presente na religião, que consiste numa dialética que só pode ser propriamente compreendida ao se lançar luz sobre ações constituídas num modelo comportamental de caráter extra-humano, então, o céu (imortalidade) é meu inferno. Não posso, nem por sacrifício em nome de uma eternidade, negar todas as instâncias de meu ser.