quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

"O Céu é meu Inferno"


 A relação entre a ética "transcendental" da religião e a convencional civil, trouxe - e ainda traz, muitas conturbações. Analisando um pouco mais as teorias de cada projeto, tendo por fundamento ambas as éticas como resultado do processo cultural, sugiu o questionamento sobre a possibilidade da ética religiosa atender - através de seus conjuntos de regras - o funcionamento comportamental do ser homem enquanto humano e, não vi outra saída se não opor a este modelo ético "transcendental". Tendo em vista a finalidade do ser (sua completude), a religião advoga a favor da noção da impossilidade de um estatuto do homem no campo do mundo, ou seja, de que o sujeito deveria se constituir na aplicações de práticas ancoradas na natureza divina (perfeita, absoluta, Boa), portanto, a tarefa moral presente na teoria religiosa que, consiste na relação entre espírito e eternidade, só pode ser concretizada no mundo que constitui o sujeito negando toda sua natureza humana, o que erige um paradoxo. Obviamente, agir segundo a natureza "imperfeita" do homem desenbocaria na idéia de falta de benevolência e perfeição.

É difícil conceber uma perspectiva dialética que debruça em seu interior o movimento de ser negando a si próprio. Ora, para ter uma idéia mais clara, pensemos por um momento, sob esta perspectiva dialética, alguns dos fenômenos referente ao processo. Um dos candidatos categóricos para a finalidade do homem são as afecções reguladas nas operações de negação do ser de sua natureza. Aqui, a ética religiosa, no que diz respeito à expericência com o outro, limita o sujeito ao esvaziamento de conteúdos de sua forma, como, por exemplo, reprimir o sentimento de ódio (repulso) que podemos ter com o outro e "oferecer a outra face". Ora, se há circunstâncias na qual nasce por comoção este sentimento, é condição de ser algo da natureza do homem para que seja despertado em seu interior e, que tem sua realidade dependente do ser humano. Negar certas afecções como esta, ou seja, negar a expêriencia de sentidos internos, não seria o mesmo que negar a natureza de homem e, por conseguinte, sua apercepção; necessária para a condição do ser enquanto homem.

Sublimar o sexo na qualidade de procriação representada numa manobra que começa a existir no campo do pecado (imperfeição), não é pensar o desejo instintivo do prazer sexual sobre algo do mundo exterior, criando um abismo entre o homem e a libido? Este objeto do sentido interno, com efeito, exige biológicamente sua satisfação. No instante de negação, a libido deixa de ser o ponto de vista no qual se vê a natureza humana e passa a ser objeto transcendente que acompanha toda representação de negação do ser.

Se para atingir a finalidade absoluta do ser humano (céu, imortalidade, vida eterna) seja preciso acomodar-se às tarefas éticas presente na religião, que consiste numa dialética que só pode ser propriamente compreendida ao se lançar luz sobre ações constituídas num modelo comportamental de caráter extra-humano, então, o céu (imortalidade) é meu inferno. Não posso, nem por sacrifício em nome de uma eternidade, negar todas as instâncias de meu ser.


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