domingo, 13 de outubro de 2013

Eros ???

Vejo pelo face um emaranhado de recados com o tema amor. O que me preocupa muito, principalmente quando vejo frases de filósofos que discutem sobre o assunto, é a visão distorcida que muitos têm a respeito. Ao pensar a relação amor e indivíduo, não podemos descartar alguns comportamentos e psiques condicionados pela sociedade vigente.

 Influenciado pelas leituras de Marx e um artigo de Renato Nunes “O Desafio de Amar”, surge o questionamento sobre a possibilidade de uma relação duradoura que muitos procuram, mas não encontram e, não vejo outra saída se não pensar uma ética de relações intersubjetivas opostas às categorias do capitalismo, constituída enquanto instâncias de alteridade e afetividade.

Para se ter uma ideia mais clara, analisemos por um instante sob uma perspectiva ontológica a intersubjetividade. Eros, desejo que leva o indivíduo a sair de seu estado egocêntrico, necessita do estado de alteridade para que o ego abra espaço para realização do encontro do outro e procurar o prazer no objeto desejado, contudo, este desejo não é uma mera vontade de posse e, portanto, um apropriar-se de coisas, mas sim, um alcance de reconhecimento de si no e do outro, o que leva a afirmação de existência do ego. Portanto, amar é a extensão entre dois corpos no reconhecimento de duas consciências que buscam a construção da identidade, o que não está desvinculada da intersubjetividade e que se funda na reciprocidade.

 O que se encontra em causa aqui é justamente o fenômeno da alteridade. A sociedade vigente que se ergue diante do ideal capitalista cria um abismo entre alteridade e o indivíduo. O reducionismo e abstracionismo em que as reflexões capitalistas se enredam isolam completamente da essência do ser humano o “sair de si e olhar para o outro” do ego. Na sociedade vigente, o fio condutor que mantém as relações é a produção de mercadorias e a geração de lucro, com isso cria-se o fenômeno que Marx chama de “fetichismo da mercadoria”, que se estende até às relações humanas. Assim como as mercadorias representam “poderes alquímicos” - a satisfação que advoga a favor dos comportamentos hedonistas perniciosos, também ocorre entre os seres humanos. O que afrouxa a perduração de relações humanas. Seres humanos, impulsionados pelo desejo egocêntrico, sublimam seus interesses na satisfação imediata que as mercadorias oferecem, por conseguinte, as relações humanas são travestidas por este desejo individualista. Os indivíduos buscam no outro a satisfação imediata de seus desejos, quando isto não ocorre, o outro é descartado, assim como as mercadorias de consumo, afirmando cada vez mais na essência do ser o egocentrismo que se opõe a autorrealização e na afirmação da desubstancialidade deste, prejudicando a própria construção do ego, já que este necessita do “olhar do outro” para apreender-se.

A inefabilidade desta essência enquanto algo ontologicamente construído em atitudes voltadas para si mesmo, esvazia o ser de qualquer explicação positiva quanto ao sentido de alteridade que engaja o ser humano e concretiza sua existência, as atitudes hedonistas se tornou um imperativo da psique, o que leva as relações tornar-se cada vez mais ternas e frívolas.

 O que esta em jogo aqui é a necessidade do ego sair de si mesmo em que as categorias capitalistas não estimulam. A existência de relações duradouras é inerente à ética. O compromisso está vinculado ao outro, não que isto exija a metrificação de uma relação. A relação duradoura deve abrir-se no quiasma da espontaneidade e alegria, e não em um formalismo contratual. Em outras palavras, o amor genuíno é vivido e contaminado da verdade do outro. Para seres humanos estabelecer-se no amor genuíno seria necessário pensar uma ética distinta da atual impregnada de reflexões hedonistas.

Como diz Pierre Lévi: “Quem não se ama usa os outros para preencher as próprias deficiências. Busca um ego complementar ao seu”.


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