domingo, 17 de novembro de 2013

Belos Músculos




Pensando a relação cultura e consumo, percebo, uma relação complementar como que um invólucro que assume cada vez mais os comportamentos hedônicos e de superficialidade. Ao olhar os jovens inseridos numa cultura onde a valorização do corpo é glorificada, surge o questionamento sobre a disseminação de ideais narcisistas.

Com o acesso fácil a internet e a globalização, a influência da mídia edema cada vez mais diferentes formas de conduta no que recai no afrouxamento de condutas narcisistas e individualistas. Por sua vez, a massificação da mídia, que teria a tarefa de movimentar teorias éticas e, portanto, de coletividade, constitui enquanto instâncias ao amor à própria imagem e na satisfação imediata dos próprios desejos. O que se encontra em jogo aqui é a racionalidade híbrida de crítica e autonomia que atua na sociedade hoje.

Para se ter uma ideia mais concreta, pensamos por um momento o controle que a mídia faz sobre o indivíduo no que diz respeito ao culto do corpo visando o belo. Vemos propagandas que vendem imagens de pessoas bem sucedidas, com carros novos, com bom emprego em academias, ligados ao produto Light ou Diet e aos exercícios físicos, disseminando a ideia de poder que a beleza proporciona ao indivíduo que o consome ao invés de sua principal ideia de saúde que determina sua cientificidade. Desta forma, surgem tendências exacerbadas aparentes do corpo que, personificam sujeitos que pensam mais em si mesmos acreditando na falsa ideia de poder em que a beleza do corpo assume proibindo-o de qualquer tipo de pensamento abstrato. 

O que vemos hoje são máquinas belíssimas de apelação sexual esvaziadas de pensamentos e conteúdos.


sexta-feira, 15 de novembro de 2013

Geração Facebook

Motivado pelas leituras de Adorno e suas análises perante a sociedade, surge em mim o questionamento a respeito de uma relação mais humana entre nós, a visão que se mostra clara em minha mente é o surgimento de patologias geradas pela relação entre o homem e a tecnologia. Minha preocupação é justamente advogar a favor da inefabilidade de relações intersubjetivas e humanas frente a globalização e a cybercultura, especificadamente, o sistema de relacionamento Facebook, não de sua estrutura, mas, sim, do mau uso que fazemos.

Se pararmos pra analisar por um momento a tecnologia, esta transformou-se – na sociedade vigente, instrumento de auto conservação da espécie. No que diz respeito ao facebook, este, ao meu ver, deveria ter sua finalidade de aproximação de relações humanas mediante sua eficácia em relação ao espaço (distância geográfica) e tempo (imediatidade). Contudo, a tentativa de aproximar os seres humanos aparece por detrás de seu véu justamente o contrário. Vemo-nos dependentes de objetos técnicos que facilitam a comunicação entre os sujeitos, mas que distanciam-nos ao depositar tendências emotivas aos objetos técnicos no qual, dentro da linguagem marxista, representa um fetichismo, onde a transição entre uma relação racional com a técnica é de sublimação.

Para se ter uma ideia mais clara sobre a temática em movimento, apoiado por uma perspectiva psicológica, a tecnologia sublimada representa a coisificação do sujeito, pois ao abrir espaço para uma relação virtual, esta – com a falta da interação real com “o outro”, esvazia o sujeito de emoções e sentimentos capazes de unir humanamente e alcançar a emancipação. A virtualidade das relações sedimentou de modo mais profundo o caráter das pessoas. Pois, estamos vivendo numa sociedade isolada e fria deficiente na capacidade de interação, posso ainda determinar de massa solitária, recusando de antemão nas outras pessoas suas emoções antes que as mesmas se instalem. Se nossos sentimentos e emoções são absorvidos por coisas técnicas e virtuais reduzimo-nos a meros objetos e indiferente ao outro. Podemos ainda dizer, se não estou sendo levado por um olhar dramático – de uma síndrome; medo do incomodo que pode causar uma interação, já que por detrás da máquina e do “meu espaço” gera a segurança de se mostrar.

Podemos ainda falar, recorrendo a linguagem psicológica, de uma carência de afirmação da consciência, pois sendo esta levada pelo desejo de exteriorização, necessita de um reconhecimento e afirmação noutra consciência. No invólucro do facebook, vemos indivíduos tentando se afirmar virtualmente noutra consciência, o problema gerado pelo reconhecimento no facebook é a perturbação no sujeito pela busca dos holofotes. O que leva os indivíduos a se satisfazerem a qualquer custo. Não é a atoa que vemos post como “partiu tomar banho” ou ainda “tira foto no espelho pra postar no facebook”. Não estou aqui recuando minhas ações perante o face. Alego desde já que me manifestei desta forma pelo face. Mas, é visível em certas postagens – desnecessária – diga-se de passagem, a vontade perturbada de notabilidade. Vejo que o mau uso do face esta criando certas “patologias” desumanizando ainda mais os indivíduos. 


domingo, 13 de outubro de 2013

Eros ???

Vejo pelo face um emaranhado de recados com o tema amor. O que me preocupa muito, principalmente quando vejo frases de filósofos que discutem sobre o assunto, é a visão distorcida que muitos têm a respeito. Ao pensar a relação amor e indivíduo, não podemos descartar alguns comportamentos e psiques condicionados pela sociedade vigente.

 Influenciado pelas leituras de Marx e um artigo de Renato Nunes “O Desafio de Amar”, surge o questionamento sobre a possibilidade de uma relação duradoura que muitos procuram, mas não encontram e, não vejo outra saída se não pensar uma ética de relações intersubjetivas opostas às categorias do capitalismo, constituída enquanto instâncias de alteridade e afetividade.

Para se ter uma ideia mais clara, analisemos por um instante sob uma perspectiva ontológica a intersubjetividade. Eros, desejo que leva o indivíduo a sair de seu estado egocêntrico, necessita do estado de alteridade para que o ego abra espaço para realização do encontro do outro e procurar o prazer no objeto desejado, contudo, este desejo não é uma mera vontade de posse e, portanto, um apropriar-se de coisas, mas sim, um alcance de reconhecimento de si no e do outro, o que leva a afirmação de existência do ego. Portanto, amar é a extensão entre dois corpos no reconhecimento de duas consciências que buscam a construção da identidade, o que não está desvinculada da intersubjetividade e que se funda na reciprocidade.

 O que se encontra em causa aqui é justamente o fenômeno da alteridade. A sociedade vigente que se ergue diante do ideal capitalista cria um abismo entre alteridade e o indivíduo. O reducionismo e abstracionismo em que as reflexões capitalistas se enredam isolam completamente da essência do ser humano o “sair de si e olhar para o outro” do ego. Na sociedade vigente, o fio condutor que mantém as relações é a produção de mercadorias e a geração de lucro, com isso cria-se o fenômeno que Marx chama de “fetichismo da mercadoria”, que se estende até às relações humanas. Assim como as mercadorias representam “poderes alquímicos” - a satisfação que advoga a favor dos comportamentos hedonistas perniciosos, também ocorre entre os seres humanos. O que afrouxa a perduração de relações humanas. Seres humanos, impulsionados pelo desejo egocêntrico, sublimam seus interesses na satisfação imediata que as mercadorias oferecem, por conseguinte, as relações humanas são travestidas por este desejo individualista. Os indivíduos buscam no outro a satisfação imediata de seus desejos, quando isto não ocorre, o outro é descartado, assim como as mercadorias de consumo, afirmando cada vez mais na essência do ser o egocentrismo que se opõe a autorrealização e na afirmação da desubstancialidade deste, prejudicando a própria construção do ego, já que este necessita do “olhar do outro” para apreender-se.

A inefabilidade desta essência enquanto algo ontologicamente construído em atitudes voltadas para si mesmo, esvazia o ser de qualquer explicação positiva quanto ao sentido de alteridade que engaja o ser humano e concretiza sua existência, as atitudes hedonistas se tornou um imperativo da psique, o que leva as relações tornar-se cada vez mais ternas e frívolas.

 O que esta em jogo aqui é a necessidade do ego sair de si mesmo em que as categorias capitalistas não estimulam. A existência de relações duradouras é inerente à ética. O compromisso está vinculado ao outro, não que isto exija a metrificação de uma relação. A relação duradoura deve abrir-se no quiasma da espontaneidade e alegria, e não em um formalismo contratual. Em outras palavras, o amor genuíno é vivido e contaminado da verdade do outro. Para seres humanos estabelecer-se no amor genuíno seria necessário pensar uma ética distinta da atual impregnada de reflexões hedonistas.

Como diz Pierre Lévi: “Quem não se ama usa os outros para preencher as próprias deficiências. Busca um ego complementar ao seu”.


terça-feira, 11 de junho de 2013

TECNOLOGIA E PROGRESSO


A modernidade, que tem seu marco com entrada da tecnologia, trouxe ao ser humano facilidades materiais que auxiliaram no progresso científico e sócio-político. Contudo, ao indagar a valorização desta racionalidade, surge o questionamento sobre o progresso da humanidade. Ora, se o conceito de progresso implica a inerência de um desenvolvimento como fio condutor ao avanço (diante), é possível pensar numa determinação aquém da libertação de mitos que cercam a espiritualidade (razão e consciência)? A humanidade produz tecnologia para atender suas necessidades e traz com ela o poderio sobre a natureza que coloca o homem numa posição historicamente polêmica. O conhecimento humano quebrou os paradigmas de uma cultura carregada de dialética religiosa que, até então, destinava o homem a inferioridade.

A ciência rasga a cada momento o véu do mundo libertando o homem das leis naturais e, mostrando sua autonomia e 
interferência sobre o percurso desta, principalmente quando se trata da engenharia genética. Mas, ao resgatar uma ciência, como a ética, que coloca o comportamento do homem como objeto, esta parece criar um abismo a qualquer tipo de racionalidade. Do que adianta o homem criar asfalto retirado da queima do petróleo para facilitar o tráfego de Rolls-Royce se não podemos trafegar com tranquilidade e liberdade sem riscos de violência?

Para se ter uma ideia mais clara sobre o que se encontra em causa aqui, examinemos por um momento a relação de intersubjetividade. Observamos várias teorias de relações humanas que frente a prática parece cair num reducionismo, pois suas reflexões enredam os resultados à inevitáveis tautologias. Toda racionalidade humanitária, ao recorrer sobre seus projetos, determinam o indivíduo pelos princípios de razão, vontade e liberdade. Mas, os fatos demonstram a inefabilidade desta racionalidade, pois ao colocar a essência do homem enquanto algo ontologicamente racional e livre, configura-se num sentido travestido que proíbe qualquer explicação positiva, já que a realidade demonstra uma “relação humanitária” autoritária que impõe à esta mesma essência uma determinação coisificada e que, portanto, trata o homem como um objeto inerte.


Vemos a ciência conquistar a revolução, através da tecnologia, como produção em massa de alimentos; vemos, também, a engenharia genética, graças ao pensamento humano, produzir alimentos geneticamente modificados que suportam ao ataque de pragas. No entanto, ainda vemos pessoas morrerem de fome.


Podemos falar realmente de progresso e evolução, se os valores humanitários perderem-se diante da valorização do saber técnico? Este último, não deveria trazer a facilidade e com isto a felicidade fundamental pra vida humana?


Esta é a lógica do tecnicismo que tanto celebramos com aplausos.